Categoria: Pré Guerra

GP de AVUS, 1937

OS PROTAGONISTAS

Hermmann Lang - Mercedes Benz W25K M125, 8 cilindros 5.7 l
Hermmann Lang – Mercedes Benz W25K M125, 8 cilindros 5.7 l
Bernd Rosemeyer – Auto Union tipo C, V16 6.0 l
Bernd Rosemeyer – Auto Union tipo C, V16 6.0 l
Manfred von Brauchitsch - Mercedes Benz W25K DAB V12 5.6 l
Manfred von Brauchitsch – Mercedes Benz W25K DAB V12 5.6 l
Rudolf Caracciola - Mercedes Benz W125, 8 cilindros 5.7 l
Rudolf Caracciola – Mercedes Benz W125, 8 cilindros 5.7 l

O PALCO

Circuito de AVUS e a Parede da Morte no setor norte
Circuito de AVUS e a Parede da Morte no setor norte

O CAMPEONATO

Essa prova não contava pontos para o Campeonato Europeu de Grand Prix. E num acordo de cavalheiros, Mercedes e Auto Union decidiram por uma corrida força livre. Por isso utilizaram as carrocerias streamliner. 

Carros de GP de 750 kg com carrocerias normais também foram inscritos.

A título de curiosidade, Caracciola foi o campeão de 1937 após o GP da Itália em Livorno no dia 12 de setembro.

A CORRIDA

AVUS (sigla para Automobil Verkehrs und Übungs Straße, que significa estrada para testes e tráfego de carros) era o circuito mais rápido do mundo na época. Em 1935, Fagioli venceu a corrida com uma média de 238,5 km/h, muito mais rápido do que o vencedor de Indianapolis a “apenas” 175,5 km/h em 1936 ou a média de Cobb em Brooklands a 205 km/h em 1937.

Uma volta em AVUS era praticamente inteira pé embaixo pois a Parede da Morte tinha uma inclinação de incríveis 43,6o!!! Foi construída em 1936 e consequentemente não houve corrida nesse ano.

Imaginem o trampo pra construir a Parede! :o
Imaginem o trampo pra construir a Parede! 😮

As equipes alemães fizeram 3 sessões de testes antes da corrida. Em meados de abril de 1937, a Auto Union foi experimentar a nova pista durante 3 dias e o fato mais curioso foi uma saída de pista de Rosemeyer na Parede da Morte, mas na parte de cima!!! O habilidoso piloto conseguiu controlar o carro e os diretores do circuito decidiram pintar uma faixa branca na pista de tijolos a 2 metros da borda como medida de segurança.

E vale a pena mencionar que Hans Stuck não participou dessa corrida pois veio competir no GP da Gávea, no Rio de Janeiro.

O evento ocorreu no dia 30 de maio. E teria um interessante formato de mata-mata. Haveria 2 baterias de 7 voltas cada e depois uma final com os 4 melhores numa disputa de 8 voltas. Conforme constatado nos testes, o consumo de pneus era severo e não suportariam 7 voltas flat.

Durante os treinos, ficou claro que seria uma corrida única e que de fato, nunca mais se repetiria. Lang ia a 390 km/h quando o ar simplesmente levantou o eixo dianteiro do chão! Com muita calma e uma formidável dose de habilidade, ele conseguiu controlar a situação. Para evitar uma nova ocorrência, ele solicitou que a cobertura das rodas de seu streamliner fossem retiradas.

Uma visão externa da Parede da Morte
Uma visão externa da Parede da Morte

Bom, agora é a hora do tradicional gancho.

Para AVUS, o carro mais potente era a Mercedes com motor V12 DAB, de incríveis 700 HP! Esse motor era mais baixo do que o M125 com 8 cilindros em linha, justamente para diminuir o arrasto aerodinâmico do carro (o cx era de apenas 0,157). No dia 28 de janeiro de 1938, Caracciola dispunha de uma maravilha tecnológica desenvolvida pelos alemães. Graças a melhorias, o motor chegava a 736 HP e neste dia ele estabeleceu um recorde que persiste até hoje. Ele atingiu 432,7 km/h numa rodovia pública, a Autobahn A5 entre Frankfurt e Darmstadt. Entretanto, esse dia também foi marcado por uma tragédia. Rosemeyer faleceu ao tentar quebrar a marca de Caracciola quando seu Auto Union foi atingido por uma rajada de vento lateral.

O Mercedes-Benz W125 Rekordwagen
O Mercedes-Benz W125 Rekordwagen

Voltando a corrida de 1937. Extra oficialmente, Rosemeyer foi o mais veloz com uma volta de 4m04.2s a média de 284,31 km/h !!!!! Mas esse tempo foi marcado num treino livre…

Na sessão classificatória para a pole, Fagioli com outro Auto Union cravou 4m08.2s e conquistou o primeiro lugar. Os carros de GP eram 25 km/h mais lentos na reta…

A 1ª bateria teria largada as 15:00 h. Estima-se que mais de 300 mil pessoas foram assistir essa corrida e o grid foi:

1) Rosemeyer / Auto Union Streamliner  #31 – 4m09.2s

2) Caracciola / Mercedes-Benz Streamliner #35 – 4m15.2s

3) von Delius / Auto Union #32 – 4m25.2s

4) Seaman / Mercedes-Benz #38 – 4m29.4s

5) Balestrero / Alfa Romeo – sem tempo

OBS: Goffredo Zehender tinha um Mercedes-Benz idêntico ao de von Brauchitsch mas o motor V12 DAB estourou e ele ficou de fora da corrida.

Na largada, os carros de GP pulam na ponta por serem mais leves que os streamliners, porém são ultrapassados na longa reta. Mas na freada do grampo do setor sul, von Delius retoma a liderança e a mantém ao abrir a 2ª volta, 6s a frente de Rosemeyer. A título de comparação, Balestrero passa 1m47s atrás…

Ao passar pela 2ª vez na Parede da Morte, Rosemeyer aparece na ponta com von Delius atacando e sendo seguido de perto por Seaman. Caracciola vem 4s atrás dos líderes. A intenção dos streamliners era clara; poupar pneus.

As posições foram mantidas na 3ª volta. Na 4ª, Caracciola aperta o ritmo e assume a vice liderança. Entretanto, os 4 estavam próximos, com exceção de Balestrero, 1 volta atrás, apesar dos carros alemães estarem com ritmo de 5min/volta.

Rosemeyer liderando von Delius e Seaman
Rosemeyer liderando von Delius e Seaman

Na 5ª volta, a corrida começa de verdade com os streamliners virando em 4min40s. Ao entrar na Parede, o público se agita ao ver uma incrível manobra de Caracciola que assume a ponta. Durante a 6ª volta, ocorre um verdadeiro troca troca de posições. O “Mestre da Chuva” e Rosemeyer vão se revezando na liderança, que troca de mãos nada menos do que 5 vezes por volta graças a ousadas manobras de ultrapassagem no vácuo a 380 km/h nas retas e aproximadamente 180 km/h no curvão!

A disputa ente Caracciola e Rosemeyer foi a mais insana do dia.
A disputa ente Caracciola e Rosemeyer foi a mais insana do dia.

Eles completam a 6ª volta em 4m27s e partem para a última, ambos extraindo o máximo de seus carros! Rosemeyer entra na Parede um pouco a frente, porém por dentro enquanto que Caracciola vem embalado por fora, coloca lado a lado e vence por apenas 7 décimos!!!

O ritmo alucinante de Rosemeyer teve um alto custo. Apesar de cravar a volta mais rápida no último giro em 4m11.2, seu Auto Union tinha apenas 13 cilindros funcionando… Mas a média de 276,4 km/h só foi ultrapassada nas 500 milhas da Indy 34 anos depois.

Esta bela pintura ilustra o final emocionante da bateria
Esta bela pintura ilustra o final emocionante da bateria

A 2ª bateria teria largada as 15:50 h e o grid foi assim formado:

1) Fagioli / Auto Union Streamliner  #33 – 4m08.2s

2) von Brauchitsch / Mercedes-Benz Streamliner #36 – 4m12.4s

3) Lang / Mercedes-Benz Streamliner #37 – 4m19.1s

4) Hasse / Auto Union #34 – 4m20.0s

5) Hartmann / Maserati

6) Soffietti / Maserati

Ao contrário da 1ª bateria, a disputa foi intensa desde a largada. Hasse aproveita e pula na liderança e só a perde um pouco antes da Parede quando Fagioli o ultrapassa. Ele completa a 1ª volta em 4m40s e seguido de perto por Lang.

a largada da 2ª bateria
a largada da 2ª bateria

Fagioli perde a liderança para von Brauchitsch em função de problemas de câmbio. O líder completa a volta 2 em 4m22s!

Lang assume a ponta na 3ª volta virando em 4m17.2s Hasse não foi capaz de seguir o pelotão e passa 14s atrás. Soffietti já era retardatário.

Fagioli ainda consegue 4m17 na 4ª volta mas abandona com a alavanca de câmbio travada. Lang teve ainda mais azar quando um pneu estoura no meio da reta. Talentosamente, ele consegue controlar a máquina desgovernada e pára na curva sul para troca.

Assim o líder von Brauchitsch diminui o ritmo girando em 4m26s na volta seguinte. Hasse vem em 238s atrás. Na 6ª volta, Soffietti toma outra volta enquanto Hasse diminui a diferença para 26s pois o líder poupa equipamento girando em 4m42s. Mas Lang volta a disputa e fecha a volta 45s de desvantagem.

Na última volta, von Brauchitsch recebe a bandeirada e 20s atrás uma disputa se prenuncia. Lang vem babando e estava prestes a quebrar o recorde de Rosemeyer. Ele embute na traseiro do Auto Union e vai ultrapassar por dentro da curva porém Hasse não olha para o retrovisor ao jogar o carro para o lado esquerdo! Lang trava as rodas para evitar uma catástrofe de enormes proporções (imaginem uma batida a 200 km/h com o público tão perto). Ao fim da corrida, ele foi pedir desculpas a Lang e disse que não o tinha visto.

Para a bateria final entrariam Caracciola, von Brauchitsch, Rosemeyer, Lang, Hasse, von Delius, Seaman e Hartmann nessa ordem de largada. O chefe da Mercedes Neubauer formalizou um protesto que colocou Lang a frente e foi aceito. Afinal, eles corriam com patrocínio estatal…

O problema no motor de Rosemeyer não foi reparado a tempo e ele teve que correr assim mesmo, sendo alijado da disputa. A largada estava marcada para 17:45 h e teria 8 voltas.

Com 3 streamliners e 1 GP, a Mercedes pode até se dar ao luxo de fazer estratégias diferenciadas. Caracciola e Seaman iam correr com pé embaixo e parar na metade da prova para troca de pneus. E o Mestre da Chuva logo assume o controle da corrida.

A disputa no cotovelo que era a curva sul
A disputa no cotovelo que era a curva sul

Na metade da 1ª volta, von Brauchitsch abandona próximo da curva sul com problemas de câmbio. Caracciola completa a volta em 4m33s e surpreendentemente Rosemeyer aparece em 2liderando um pelotão. Na volta seguinte, a situação se mantém, com o líder girando em 4m19s. Entretanto, Rosemeyer havia destruído seus pneus e precisou parar nos boxes. Lang assumiu com Seaman na perseguição deixando pra frear mais dentro das curvas. A perseguição continuou na 3ª volta. Mas o líder Caracciola acaba sofrendo o mesmo problema de câmbio que seu companheiro de equipe e sai da corrida.

Na 4ª volta, Lang passa como novo líder. 18s atrás vem von Delius e depois Hasse e Seaman. 1 min atrás aparece Rosemeyer. Na sequencia, Seaman vai pro seu pit stop seguindo a estratégia.

A linda carroceria aerodinâmica da Auto Union
A linda carroceria aerodinâmica da Auto Union

Lang passa a administrar a corrida e vence tranquilamente, mesmo com o azar da bateria anterior. Von Delius tentou chegar próximo mas ainda assim cruzou a linha de chegada com 6s de desvantagem. Hasse completou o pódio, Rosemeyer foi apenas o 4o, e foi retirado do carro tão coberto em óleo de seu motor que sua esposa teve que lavá-lo com gasolina.

O vencedor Hermann Lang
O vencedor Hermann Lang

Fonte: Kolumbus

Algumas imagens e pinturas são do arquivo da Mercedes Benz. Gostou dessa história? Então talvez vc queira conhecer o Mercedes-Benz T80. 😉

PS: esse post tem caráter meramente histórico pela contribuição das montadoras alemãs em desenvolver o esporte a motor e não compactua com os ideais Nazistas.